Fritz Perls: A Presença que Inspirou a PNL
- Charton Baggio Scheneider
- 7 de ago.
- 4 min de leitura

“Estar presente é ter escolha. Sem presença, somos apenas reação.”
Fritz Perls (em espírito, se não em palavras)
A história da Programação Neurolinguística (PNL) costuma começar com dois nomes: Richard Bandler e John Grinder. Mas a verdadeira origem de uma revolução raramente está em quem a nomeia — e sim em quem a acende. Entre os fogos que acenderam a chama da PNL, um deles ardeu com intensidade própria: Fritz Perls, o criador da Terapia Gestalt.
Este artigo não é apenas sobre o homem. É sobre a força viva que ele representava — e que segue inspirando quem escolhe viver, trabalhar e transformar com presença, consciência e responsabilidade.
Quem foi Fritz Perls?
Imagine um terapeuta que não se contenta com interpretações intelectuais, nem com narrativas sobre o passado. Que corta as defesas com uma pergunta simples, que desmonta racionalizações com um silêncio. Esse era Perls.
Nascido na Alemanha em 1893, Perls começou como psicanalista, mas logo percebeu que havia algo faltando na forma como as pessoas eram tratadas: a vida do agora. Em vez de escavar o passado infinitamente, ele queria trazer à luz o que estava vivo no presente — mesmo que fosse incômodo.
Fugindo do nazismo, passou pela África do Sul e depois se fixou nos Estados Unidos, onde se tornou figura marcante nos encontros do Instituto Esalen, na Califórnia. Suas sessões, frequentemente abertas ao público, se tornaram verdadeiros espetáculos de despertar humano. Intensos, diretos, e às vezes desconfortáveis — porque sair do automático exige desconforto.
Gestalt: uma prática de presença radical
A Gestalt-terapia não nasceu como método, mas como postura. E essa postura influenciou profundamente a PNL. Não por acaso: Bandler e Grinder beberam diretamente dessa fonte.
Três ideias centrais de Perls ecoam na alma da PNL:
Presença é o remédio:
Perls acreditava que boa parte do sofrimento humano vem da ausência — da fuga para o passado ou da ansiedade pelo futuro. Ele nos chamava de volta ao agora, onde a mudança real acontece.
Consciência antes de qualquer técnica:
Mais importante do que saber "o que fazer" é perceber "o que está acontecendo". Perls treinava seus clientes a notarem o corpo, a respiração, os impulsos. Esse refinamento da atenção interna virou base para muitos processos da PNL, como o trabalho com submodalidades e ancoragem.
Você é autor da sua experiência:
Nada de terceirizar culpa. Perls trazia o cliente de volta à responsabilidade — e isso não como peso, mas como libertação. Essa filosofia se encaixa perfeitamente com o coração da PNL: reprogramar a própria mente é assumir o leme da própria vida.
A influência silenciosa de Perls na criação da PNL
Pouca gente sabe, mas antes de desenvolver a PNL, Richard Bandler passou um tempo editando um livro de Fritz Perls. E ao ouvir horas de gravações de sessões do terapeuta, algo se acendeu. Bandler ficou fascinado pela precisão das perguntas, pelo modo como Perls "quebrava" narrativas vagas com simplicidade desconcertante.
Junto a John Grinder, linguista de formação, surgiu então o Meta Modelo de Linguagem, uma das colunas centrais da PNL. Mas se você olhar de perto, vai ver que o estilo afiado de questionar do Meta Modelo tem muito do tempero de Perls. Ele não deixava o paciente escapar com frases como “todo mundo me julga” — ele ia fundo:
— Quem, exatamente? Quando? O que você sentiu?
Era quase uma dança entre provocação e empatia. E foi essa dança que a PNL aprendeu a coreografar.
Técnicas com DNA gestáltico
Embora Perls nunca tenha falado em "PNL", muitas das práticas da programação neurolinguística carregam sua marca:
A clássica “cadeira vazia” virou base para técnicas como integração de partes, ajudando pessoas a lidar com conflitos internos.
O diálogo com partes inconscientes inspirou modelos como o reenquadramento em seis passos, onde se reconhece a intenção positiva por trás de sabotagens internas.
A atenção ao corpo virou calibração e uso de âncoras sensoriais — formas de acessar e instalar estados internos específicos.
E o estilo direto, quase teatral, de intervenção virou modelo para técnicas de interrupção de padrão, tão usadas na mudança de hábitos na PNL.
Mais do que técnicas: uma atitude diante da vida
Fritz Perls nos deixa um legado que vai além de métodos terapêuticos. Ele nos provoca a assumir presença. A sair do piloto automático. A parar de terceirizar o que sentimos. Ele acreditava — como também acredita a PNL — que transformar é escolher conscientemente.
E, no fim das contas, essa talvez seja a lição mais profunda: não é a técnica que muda uma vida. É a consciência com que ela é aplicada. A presença do terapeuta. A responsabilidade do cliente. A disposição de ambos em sair da superfície.
Na intersecção entre Gestalt e PNL, encontramos mais do que ferramentas. Encontramos um chamado:
Estar vivo é estar presente. E estar presente é ter poder de escolha.
Se você é praticante, estudante ou entusiasta da PNL, mergulhar na história e no espírito de Fritz Perls é mais do que aprender sobre uma influência. É lembrar que toda técnica é só um convite. Quem responde — com verdade — é você.






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